
A implantação de grandes equipamentos tem sempre impactos negativos sobre o território e portanto aquilo que deverá ser feito (dentro do perímetro funcional definido) é a escolha menos má, ou seja do local onde esses impactos sejam menores. Por outro lado, quando um bem é escasso o valor do mercado aumenta (são as leis do mercado a funcionar) surgindo a tentação da especulação fundiária, do lucro fácil. Será por isso que é desejável que estes processos sejam completamente transparentes e objecto de um escrutínio, de uma discussão participada até porque no caso de um novo aeroporto não são apenas questões técnicas (de engenharia ou de aeronáutica) que estão
A polémica instalada em torno da futura localização de um novo aeroporto para a região de Lisboa resulta, em parte, da falta de tradição de planeamento que existe neste país. Quando o processo começou há uns anos, com os estudos preliminares, teria sido desejável envolver, desde logo, um conjunto de «actores» interessados. O planeamento moderno é multidisciplinar e participado. Envolve os interessados no processo, promove a aceitação das melhores soluções e legitima as decisões tomadas. Acreditamos que se um processo deste tipo tivesse sido seguido ter-se-ia evitado muita especulação e até figuras tristes. Procurar sustentar uma posição afirmando que do outro lado do rio não pode haver um aeroporto porque existe um deserto, ou que as pontes podem ser dinamitadas torna-se ridículo e sobretudo não serve para legitimar uma decisão, antes pelo contrário.
Seria importante que de toda esta questão se pudessem retirar algumas conclusões de modo a aprender com os erros. Em primeiro lugar gostaria de dizer que a mediatização que o caso gerou teve, em meu entender, um aspecto muito positivo de natureza pedagógica. A população portuguesa foi confrontada com um caso clássico do conflito de interesses que a ocupação de um território sempre gera e da complexidade que a tomada de decisão, num caso destes, envolve. Por outro lado, terão sido muitos os que se aperceberam que o problema deriva, em parte, da falta de um Programa Nacional que oriente as Políticas do Ordenamento do Território do país. Se um tal programa já existisse a decisão teria sido, com toda a certeza, menos polémica e mais simples de alcançar. Mas a esse respeito há boas notícias, um programa desse género (embora com muitos anos de atraso) foi recentemente elaborado e está agora numa fase essencial já que irá, nas próximas semanas, ser apreciado na Assembleia da República. Convém estar atento ao que dele se dirá e esperar que os nossos deputados e os nossos governantes compreendam o alcance e a importância que um programa deste tipo poderá ter para o desenvolvimento do nosso país. O programa pode ser consultado no site da DGOTDU e pela minha parte aconselho a sua consulta. No mínimo direi que se trata de um documento muito interessante. A equipa que elaborou o PNPOT foi dirigida pelo geógrafo Jorge Gaspar o que só por si é já uma garantia de qualidade (acrescente-se que há dois fóruns de discussão on line: o Blog da Ad Urbem e o Fórum Geographus).