domingo, 8 de julho de 2007

4 Maravilhas de Portugal !



Uma nota de humor.



(Esta foto foi feita numa viagem pela região do Douro em 2005).
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sábado, 7 de julho de 2007

Rua de Cacela.

Numa semana em que se fala muito de «maravilhas» e de património gostava de deixar uma imagem muito simples. Escolhi esta rua de Cacela Velha como poderia ter escolhido uma rua de Ourém Velha ou de qualquer outro lugar.
Hoje só não poderia escolher uma foto de um daqueles lugares que estão a concurso para as «7 maravilhas», e até há alguns de que gosto muito. Os lobbys dos espaços a concurso sabem que uma escolha pode valer milhões nas carteiras turísticas e, nestas coisas já se sabe, os mais poderosos costumam vencer.

Não sei se faz algum sentido escolher 7 maravilhas. Sei, com toda a certeza, que elas não são 7 e também sei que é muito fácil para o homem transformar uma coisa maravilhosa numa coisa insuportável. Tenho até receio que este tipo de iniciativas possa contribuir para isso. Um exemplo: Veneza, que é uma cidade lidíssima, no calor do Verão com os mosquitos, os preços exorbitantes e com milhares de turistas a acotovelarem-se pode tornar-se num espaço verdadeiramente insuportável.

Gosto particularmente dos pequenos lugares, à escala humana, que se percorrem a pé e ricos patrimonialmente, sem serem ostensivos. No dia em que tirei esta foto havia pouca gente na localidade e a atmosfera era tranquila. Naquele momento, Cacela, era para mim uma das «7 maravilhas». Mas também já lá estive em momentos que só apetecia fugir.

A brancura das casas e das ruas acentua a delicadeza do lugar. Experimentei aumentar um pouco a saturação da foto e isso não lhe retirou leveza.
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sexta-feira, 6 de julho de 2007

Objectos Multifuncionais !

Para que serve uma máquina de lavar?
Para a maior parte dos adultos a resposta é óbvia:
-Para lavar! e ponto final.

Se pedirmos exemplos de objectos multifuncionais, a maior parte das pessoas lembrar-se-á do canivete suíço e terá dificuldade em apontar as múltiplas funcionalidades que os objectos banais podem apresentar. Para uma criança, que está a descobrir o mundo, é tudo muito diferente e os objectos (por mais comuns que sejam) nunca serão banais ou vulgares.
O gosto das crianças por experimentar torna os objectos multifuncionais. Talvez por isso em crianças gostássemos tanto de ver o «MacGyver», lembram-se? É que ele tornava o objecto mais banal na ferramenta mais poderosa e resolvia os problemas mais complexos com objectos comuns.

Experimentem deixar uma criança de 4 anos à solta, à descoberta da multifuncionalidade dos objectos e fotografem.
Neste caso, a máquina de lavar transformou-se no local ideal para os «balões viverem» mas a raquete de badminton revelou-se pouco útil para tirar água.
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quinta-feira, 5 de julho de 2007

Imagens que Resistem !

O José Eduardo Agualusa publicou recentemente, no «Público», uma crónica em que fala dos «cartazes» publicitários ao «Nitrato do Chile».
Há umas décadas atrás, antes do tempo da «Coca-Cola» e dos outros produtos globais, eram quase a única publicidade possível de observar ao longo das estradas portuguesas. Como a ele quando em criança viajava, também a mim aquelas imagens de um cavaleiro negro sobre fundo amarelo intrigavam. O José Eduardo Agualusa explica, como ele bem sabe fazer, que esta história do Nitrato do Chile teve origem no Guano, nome dado aos excrementos de aves e morcegos quando estes se acumulam (em grandes quantidades e ao longo do tempo). O Guano é um excelente fertilizante natural (constituído sobretudo por matéria orgânica) e chegou a ser um dos produtos mais exportados a partir do Perú e do Chile. Pode ser que com o aumento do interesse pela Agricultura Biológica volte a ser um «produto global»

No Portugal de Salazar, país em que a maior parte da população activa se dedicava à agricultura e em que o comércio era pouco mais que incipiente percebe-se a profusão de tal publicidade. Depois, com os progressos da Indústria Química, o Nitrato do Chile foi desaparecendo mas a qualidade dos suportes da publicidade fez com que alguns cartazes resistissem até hoje. De qualquer forma reconheça-se que a estética (ajudada por vezes pelo cenário) era bem interessante e eu considero-os, hoje, como um género de património que, em alguns casos, deveria ser preservado.
Esta foto foi feita há quase três anos, próximo de Nisa, e embora ainda existam alguns destes exemplares, espalhados pelo país, eles começam a rarear.

P.S. - Também alguns dos «nossos» cartazes do «Licor Beirão», o licor de Portugal, em tempos muito disseminados pelas estradas portuguesas, deveriam merecer o interesse e eventual preservação.
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sábado, 26 de maio de 2007

A OTA SEM BATOTA OU A IMPORTÂNCIA DO PNPOT

A geografia locativa conheceu, há décadas atrás, um grande desenvolvimento nos Estados Unidos da América. Os empresários americanos compreenderam que o sucesso de uma empresa dependia em grande parte da localização escolhida. O valor do solo, a localização das matérias-primas, o traçado da rede de transportes, a proximidade dos mercados eram factores analisados ao pormenor em função do tipo de empresa que se pretendia instalar. O sucesso das empresas relocalizadas tornou os especialistas nas temáticas locativas imprescindíveis e determinou que os princípios (inicialmente orientados para a selecção da localização óptima das empresas) pudessem ser alargados e aplicados a outros campos do ordenamento do território. Dentro deste espírito, a localização dos grandes equipamentos sociais (hospitais, aeroportos, universidades, etc.) deve obrigar à ponderação de muitos outros factores pois trata-se do interesse público. O desenvolvimento dos sistemas de informação geográfica tem disponibilizado um conjunto de ferramentas que permitem ponderar uma quantidade de factores de localização sempre crescente, mas não é possível fazer milagres. Acontece que a crescente ocupação do território e uma apertada definição de usos do solo contribuem para que o território se torne um bem cada vez mais escasso e desse modo a selecção de localizações óptimas torna-se uma tarefa cada vez mais difícil.

A implantação de grandes equipamentos tem sempre impactos negativos sobre o território e portanto aquilo que deverá ser feito (dentro do perímetro funcional definido) é a escolha menos má, ou seja do local onde esses impactos sejam menores. Por outro lado, quando um bem é escasso o valor do mercado aumenta (são as leis do mercado a funcionar) surgindo a tentação da especulação fundiária, do lucro fácil. Será por isso que é desejável que estes processos sejam completamente transparentes e objecto de um escrutínio, de uma discussão participada até porque no caso de um novo aeroporto não são apenas questões técnicas (de engenharia ou de aeronáutica) que estão em causa. Será necessário ter em conta questões do âmbito do desenvolvimento regional, questões sociais, a rede de equipamentos preexistente e os impactos ambientais. Será ainda necessário avaliar a viabilidade do projecto, procurar antecipar os futuros problemas, prospectivar o mercado e a possibilidade de ampliação da infra-estrutura etc.

A polémica instalada em torno da futura localização de um novo aeroporto para a região de Lisboa resulta, em parte, da falta de tradição de planeamento que existe neste país. Quando o processo começou há uns anos, com os estudos preliminares, teria sido desejável envolver, desde logo, um conjunto de «actores» interessados. O planeamento moderno é multidisciplinar e participado. Envolve os interessados no processo, promove a aceitação das melhores soluções e legitima as decisões tomadas. Acreditamos que se um processo deste tipo tivesse sido seguido ter-se-ia evitado muita especulação e até figuras tristes. Procurar sustentar uma posição afirmando que do outro lado do rio não pode haver um aeroporto porque existe um deserto, ou que as pontes podem ser dinamitadas torna-se ridículo e sobretudo não serve para legitimar uma decisão, antes pelo contrário.

Seria importante que de toda esta questão se pudessem retirar algumas conclusões de modo a aprender com os erros. Em primeiro lugar gostaria de dizer que a mediatização que o caso gerou teve, em meu entender, um aspecto muito positivo de natureza pedagógica. A população portuguesa foi confrontada com um caso clássico do conflito de interesses que a ocupação de um território sempre gera e da complexidade que a tomada de decisão, num caso destes, envolve. Por outro lado, terão sido muitos os que se aperceberam que o problema deriva, em parte, da falta de um Programa Nacional que oriente as Políticas do Ordenamento do Território do país. Se um tal programa já existisse a decisão teria sido, com toda a certeza, menos polémica e mais simples de alcançar. Mas a esse respeito há boas notícias, um programa desse género (embora com muitos anos de atraso) foi recentemente elaborado e está agora numa fase essencial já que irá, nas próximas semanas, ser apreciado na Assembleia da República. Convém estar atento ao que dele se dirá e esperar que os nossos deputados e os nossos governantes compreendam o alcance e a importância que um programa deste tipo poderá ter para o desenvolvimento do nosso país. O programa pode ser consultado no site da DGOTDU e pela minha parte aconselho a sua consulta. No mínimo direi que se trata de um documento muito interessante. A equipa que elaborou o PNPOT foi dirigida pelo geógrafo Jorge Gaspar o que só por si é já uma garantia de qualidade (acrescente-se que há dois fóruns de discussão on line: o Blog da Ad Urbem e o Fórum Geographus).

domingo, 6 de maio de 2007

Dia da Mãe!

Hoje é dia da Mãe.

Para mim, esta imagem dispensa palavras.
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domingo, 29 de abril de 2007

O Lugar Onde a Cabra Matou o Lobo (A Aldeia da Pena 25 Anos Depois!)


Posted by Picasa Há 25 anos atrás, em 1982, tive a oportunidade de visitar aquela que era na altura, seguramente, uma das aldeias mais isoladas de Portugal, a Aldeia da Pena. Tenho contado muitas vezes aos meus alunos alguns pormenores dessa viagem. Nesta Páscoa voltei lá, agora com os meus filhos, e o que vi, somado às recordações daquela primeira visita, constituiu motivação suficiente para a elaboração deste post.


Na altura da minha primeira ida à Pena, estava a estudar em Coimbra, e a visita foi feita no âmbito da cadeira de Geografia da População (da Professora Fernanda Delgado). A ideia era visitar uma aldeia isolada e procurar compreender as causas e as consequências do isolamento populacional. O conhecimento de unidades territoriais isoladas não era novidade para mim que, vivendo em Ourém, conhecia alguma dessa realidade. No entanto, 8 anos depois do 25 de Abril, não pensava ser possível encontrar, em Portugal, uma aldeia tão isolada como aquela. Por várias razões aquela viagem permanece como uma das mais impressivas que fiz até hoje.
Saímos de Coimbra no velhinho Land Rover do Instituto de Estudos Geográficos. Já em S. Pedro do Sul (concelho a que pertence a aldeia da Pena) começam a avistar-se algumas cristas quartzíticas que se destacam imponentes da envolvente xistenta. Na estrada para a aldeia subimos ao alto de S. Macário, o ponto mais elevado do concelho a mais de 1000 metros de altitude, onde existe uma pequena ermida. O panorama, embora deslumbrante, deixa antever algumas das principais causas do isolamento. Nas áreas envolventes (de rochas mais brandas) surgem vales profundamente encaixados e é num deles que iremos descobrir a Pena. A descida é vertiginosa. Depois de dias muito chuvosos a estreita estrada de terra estava um pouco alagada e não fosse o caso de nos deslocarmos num todo o terreno teríamos tido grandes dificuldades em chegar. Finalmente estávamos na Pena, uma bela aldeia de casinhas de xisto (algumas abandonadas), rodeada por verde e por belas montanhas mas sem luz eléctrica, telefone ou água canalizada. Apesar disso a quantidade de galinhas que por ali vimos, o gado e os campos férteis e bem amanhados permitiram perceber que a subsistência diária era coisa garantida. O som da água corrente (a aldeia é atravessada por uma pequena ribeira que as chuvas dos últimos dias tinham engrossado) e o gado pastando pelas vertentes davam um tom bucólico que ainda hoje recordo. Para se ter uma ideia do encaixe da aldeia, nos dias Inverno, há pouco mais de 3 horas de sol directo.
O tempo apagou algumas das memórias dessa visita mas penso que não andarei longe da verdade ao revelar os seguintes factos. Na altura a aldeia tinha 13 habitantes, na sua maioria idosos, e apenas uma criança. Lembro-me de que falámos com alguns dos habitantes mas, apesar das inúmeras tentativas, não conseguimos falar com a criança que rondaria os 10 anos de idade. O miúdo, embora presente, manteve sempre uma distância segura daquela dezena de intrusos que tinham chegado sabe-se lá de onde e para fazer sabe-se lá o quê. Alguns dos habitantes com quem falámos contaram-nos coisas da vida simples que levavam, mostraram-nos as pequenas casas onde moravam, falaram dos que dali nunca tinham saído e dos que tendo saído nunca mais voltaram. Com um sentido de humor muito próprio, quem connosco falava, ria das três mulheres que vindo da apanha da erva seguiam em fila por um carreiro mancando, as três, da perna esquerda. E quando estão doentes, como é que fazem? – «Aqui, a gente não pode ficar doentes», reponderam simplesmente. Depois falaram-nos das lendas com que identificavam a aldeia. Neste particular a Pena era a aldeia da «serpente gigantesca (com mais de 200 metros) morta pelo S. Macário» mas também a «aldeia da cabra que matou o lobo» e do «morto que matou o vivo». A origem destas lendas está muito ligada ao enquadramento geográfico daquele território.

A aldeia da Pena pertence à freguesia de Covas do Rio (também ela uma aldeia muito isolada). Para se chegar à sede de freguesia os habitantes da Pena tinham 2 alternativas. Por estrada, subindo a vertente (uma jornada extenuante de mais de 3 horas a pé), ou descendo a ribeira por uma estreita passagem entre fragas que embora encurte muito o tempo da viagem só possível a pé e, sobretudo no Inverno, usando de muitas cautelas. Era por esta passagem que, quando morria alguém, se carregavam as urnas até Covas do Rio. Acontece que, em determinada ocasião, uma queda fez com que uma urna atingisse mortalmente alguém que acompanhava o cortejo fúnebre. Devido a este acidente a Pena passou também a ser conhecida como a aldeia do morto que matou o vivo. Para evitar mais alguma tragédia semelhante, os habitantes da Pena, construíram o seu próprio cemitério. O certo é que, tenha sido ou não por essa razão, encontramos na Pena aquele que é, seguramente, um dos mais pequenos cemitérios do mundo.
Curiosamente a lenda da história da cabra que matou o lobo terá ocorrido no mesmo lugar. No topo de uma das fragas estava uma cabra e no outro um lobo. Quando o lobo saltou para apanhar a cabra, esta mais expedita, com um salto desviado e uma marrada certeira, conseguiu lançar o lobo para o precipício e assim salvar-se. Depois de ouvirmos estas histórias e de vermos os locais em que ocorreram, foi por aquela passagem estreita que, com muitas cautelas, nos deslocámos a Covas do Rio a fim de conhecer a aldeia e fazer uma pausa para a merenda. Constatámos que também esta aldeia, onde havia uma escola primária, era muito isolada. Contaram-nos que, nesse ano de muita chuva, os alunos quase não tinham tido aulas (era aliás o caso, naquele dia) porque a professora que vinha de S. Pedro do Sul (utilizando uma moto) se deparava frequentemente com uma estrada de terra absolutamente intransitável. Para se ter uma ideia do que estamos a falar diga-se que na viagem de jipe, por nós feita, encontrámos a estrada, em três pontos, cruzada por linhas de água temporárias.

Na aldeia de Covas do Rio lembro-me de ver, afixado na porta da taberna, um cartaz do PPD. Depois disseram-nos que ali todos «votavam no PD» (dito assim mesmo, pêdê) porque era isso que, os senhores lá de S. Pedro do Sul, tinham dito para fazerem. Dentro da taberna em chão de terra batida e paredes toscas de pedra, uma única prateleira com alguns (poucos) produtos para venda. Lembro-me que ficámos chocados com os preços das lapiseiras. Durante muito tempo não se devem ter vendido, pois tínhamos levado algumas dezenas para oferecer às crianças da escola. Os miúdos de Covas do Rio, que provinham de duas ou três famílias numerosas, merendaram connosco e no fim da refeição já brincavam com carrinhos feitos com as latas de conserva que leváramos, agora vazias. Quando o Jipe nos foi buscar para regressarmos eles não se limitaram a dizer adeus e acompanharam, correndo e acenando, a marcha lenta que o carro fazia para vencer as más condições da estrada. Na altura tive a estranha sensação de já ter visto (na televisão) imagens parecidas com aquelas, mas provenientes de paragens mais longínquas e pouco conotadas com um país (Portugal) que se preparava para integrar a Comunidade Económica Europeia daí a pouco tempo.

Hoje quem se desloque à Pena chega pela mesma estrada, só que agora alcatroada. Os acessos sem dúvida melhoraram mas a falta da vegetação (consumida por um fogo ocorrido há dois anos), torna a estrada, sobretudo para quem tenha vertigens, um verdadeiro suplício. Mas vale a pena. Há 25 anos pensávamos estar em presença de uma aldeia, muito bela mas condenada ao desaparecimento em pouco tempo. Na verdade existem na região muitas aldeias abandonadas, mas a Pena ainda resiste. Talvez, neste caso, o isolamento e a beleza natural tenham contribuído para essa resistência. Segundo se anuncia numa tabuleta à entrada da aldeia vivem ali 10 pessoas. É possível até encontrar um pequeno e interessante Café-Restaurante e um local de venda de produtos artesanais. Segundo percebi existem grupos de pessoas que se deslocam com alguma frequência à Pena (cada vez mais, há uma nostalgia por estes espaços). Por outro lado também a comunicação social (incluindo a televisão) começa a descobrir e a divulgar aquela aldeia.

Quanto a mim, olho para a aldeia da Pena e não me parece a mesma. A Serra da Arada, devido aos incêndios, está hoje mais despida e por isso o enquadramento da Pena é muito menos rico. Por outro lado, muitas das casas de xisto foram recuperadas mas no processo estão a ser usados alguns elementos descaracterizadores. O facto de ainda existirem alguns edifícios por recuperar aliado à existência de duas velhas carcaças de automóveis abandonados em plena aldeia (coisa inimaginável há 25 anos) prejudica um pouco a imagem do lugar. O Cemitério, que era uma coisa minúscula para duas campas, parece-me agora um pouco maior. Seja como for, há 25 anos poucas coisas fariam prever que a Pena resistisse tanto tempo. Passado todo este tempo gostei, francamente, de ter voltado à Pena e ver que a aldeia ainda existe. E, surpresa das surpresas !, saber que vive naquele lugar uma menina com cinco anos de idade. Provavelmente será filha do rapazito que nós vimos (ainda criança) há tantos anos atrás.

Muitas das esperanças da aldeia residem agora naquela criança pois ela representa o futuro. Talvez tenham razões para isso. Num tempo de novas tecnologias da comunicação e com melhores meios de transporte, o isolamento geográfico já não representa o mesmo que há 25 anos. Da mesma forma que a cabra indefesa, com engenho, se desenvencilhou do lobo, também a Pena está a vencer o isolamento. É preciso acreditar que o interior do país está cheio de oportunidades, ainda que por vezes seja preciso inventá-las como parecem estar a fazer na aldeia da Pena.

sexta-feira, 20 de abril de 2007

O Rei dos Leittões!

Vou quebrar um compromisso, comigo próprio, que era o de usar (neste meu Blog) apenas imagens da minha autoria. Mas não resisto, esta imagem que encontrei, algures na NET, é perfeita para prestar uma homenagem ao meu amigo Rei dos Leittões (ver ligações de estimação). Especialista nas novas tecnologias da informação é a ele que me dirijo quando tenho alguma dúvida (e tenho sempre muitas) sobre o funcionamento desta complexa rede que é a NET e em particular sobre a Blogosfera (aproveito, aliás, para agradecer a dica, por ele dada, sobre a instalação de contadores).

No Blog dele aprecio sobretudo o sentido de humor que acompanha as suas crónicas pessoais sobre a vivência diária e simples (mesmo sendo um Rei dos Leittões ele é assim). No entanto deixem-me dizer que o Rei se «algum defeito tem» não é concerteza o de falta de irreverência. Os seus posts, sobre a actualidade da política e sociedade (sobretudo a portuguesa), são suficientemente mordazes e inteligentes para que se lhes preste atenção, ainda que por vezes seja difícil concordar com ele. Quanto à imagem, não tenham dúvidas, coloca-o no devido lugar. Na Blogosfera, entre muitos leittões, ele é mesmo o Rei.Posted by Picasa

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Caixas que Resistem!


O primeiro grande passo na história da comunicação foi a criação da linguagem escrita, mas foram necessários milhares de anos para que o homem passasse da fase em que desenhava nas cavernas para a criação de um alfabeto. Na idade média os arautos do rei liam as mensagens em praça pública mas as dificuldades em comunicar com o conjunto da população era enorme. A criação do correio foi por isso um grande progresso e durante muito tempo manteve-se como a forma mais eficaz de vencer distâncias e, ainda hoje, teima em resistir. Entretanto surgiu o telégrafo e depois veio o telefone que matou o telégrafo. Hoje anuncia-se, para breve, o fim do telefone tradicional.

O recurso aos satélites e à informática permitiu criar poderosas redes de telecomunicações que se vão difundindo e aperfeiçoando. A sucessão das inovações não pára e muitas desaparecem num curto espaço de tempo. Um exemplo, o Telex, que nos anos 80 representava um grande avanço foi ultrapassado e desapareceu completamente. Muitas pessoas nunca chegaram a ver nenhum a funcionar. Anunciam-se, para breve, formas de comunicação inimagináveis ainda há pouco tempo mas, com maiores ou menores dificuldades, o correio tradicional vai teimando em resistir.

As fotos que apresento são demonstrativas do declínio do correio tradicional, mas também da sua capacidade de resistência. A foto das caixas de correio dispostas em grelha foi feita numa aldeia do Distrito de Castelo Branco, em 2005. A que apresenta as caixas ferrugentas foi feita o ano passado, no Algarve.
Quanto a mim digo-vos que, embora já receba uma parte significativa do correio por e-mail, quando chego a casa a primeira coisa que faço (sempre) é espreitar a caixa de correio (a tradicional!). Depois, se tiver tempo (e isso nem sempre acontece), é que me disponho a «espreitar» a outra (a virtual!).
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terça-feira, 3 de abril de 2007

Grandes Portugueses

O mundo seria um lugar muito diferente sem os contributos individuais de homens como Galileu, Magalhães, Einstein, Picasso, Gandhi, Mandela e muitos outros. A lista é interminável. Eles simbolizam avanços civilizacionais mas não é possível escolher, de entre eles, o grande cidadão do mundo, determinar um cujo contributo tenha sido claramente superior ao dos outros. A civilização é o resultado de um processo histórico colectivo muito complexo. Não é possível desagregar os contributos individuais, por mais originais que sejam; do contexto em que surgiram (das influências de cada época). Ou seja, nenhum dos homens que referi teria sido o que foi sem a herança civilizacional que recebeu e por isso mesmo é impossível diferenciar, distinguir um único. Pelas mesmas razões também não é possível determinar o grande Americano, Francês ou Português.

Vem isto a propósito do resultado do concurso da RTP sobre os grandes portugueses. Antes de mais, diga-se que fosse qual fosse o desfecho, o resultado teria sido sempre controverso. É óbvio que não há apenas um grande português e a haver (goste-se ou não) esse nunca poderia ser Salazar. A escolha de um nome faz-se pela exclusão de outros e um país (uma nação) é o somatório de muitos contributos nos mais diversos domínios (acção governativa, cultura, ciência, economia, política, religião etc.). Por outro lado, o facto da escolha ter sido Salazar (ou terá sido só Sal+Azar?) teve também um efeito perverso. Bastaram uns míseros 65 000 telefonemas (militantes) para se chegar a um resultado que tem tido impactos (divulgação e exposição nacional) completamente desproporcionados. Postas assim as coisas, facilmente se chega à conclusão de que, logo à partida, o facto de não ser possível escolher um nome deveria ter sido suficiente para que gente com responsabilidade (nas mais diversas áreas) recusasse patrocinar o formato do programa. O argumento de que se tratava de um programa (apenas) de entretenimento com uma dimensão pedagógica é muito discutível.

Uma das principais características da humanidade, sem a qual não teriam sido possíveis os avanços civilizacionais, é o reconhecimento do valor essencial do colectivo. Mesmo quando se pretende distinguir cidadãos por contributos sectoriais a tarefa é difícil. Um bom exemplo, dessa dificuldade, ocorre anualmente com a atribuição dos Prémio Nobel. Raramente os resultados são consensuais.

Quando penso em portugueses que foram grandes ocorrem-me nomes como Fernando Pessoa, Pedro Nunes, Orlando Ribeiro ou Amadeo, mas não consigo escolher um. Não sendo praticável escolher o (entre todos) grande português, já me parece possível chegar ao nome do português que melhor simboliza a ideia de Portugal. Um programa formatado na base desta ideia talvez já fosse aceitável mas também pouco provável porque, nesse caso, a resposta (por muitas razões) seria óbvia:

- Camões

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domingo, 25 de março de 2007

Festambo de Parabéns

Este é o terceiro ano do FESTAMBO e a Banda de Ourém, enquanto organizadora, está de parabéns.
Parece-me que este foi o melhor dos três festivais e os anteriores já tinham sido interessantes. Creio que o que foi inovador nos espectáculos deste ano, e resultou muito bem, foi conseguir mostrar, de uma forma digna e equilibrada, uma associação das actividades amadoras da Banda de Ourém (âmbito local) com outras profissionais e de âmbito nacional. Assim todos saem a ganhar. Ganham os associados da Banda que frequentam as diversas modalidades ligadas à música e à dança e que com este tipo de interacção se sentem mais estimulados e motivados. Ganham os profissionais que nos visitam (que também têm, e assim cumprem, uma responsabilidade pedagógica) e podem atingir e captar novos públicos. Ganha Ourém que, assim, tem acesso a melhores espectáculos e por via da sua realização se promove regionalmente.

Parabéns à Banda. As boas ideias, sobretudo quando concretizadas, merecem reconhecimento.
P.S.- A imagem que eu publico é de um Festambo anterior. Recomendo que vejam a magnífica imagem do espectáculo de dança, deste ano, publicada no blog A:1:CLIQUE no dia 24 de Março.
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sábado, 24 de março de 2007

Os livros e (ou) a vida!


O Centro de Arte Moderna da Gulbenkian exibia, ainda há pouco tempo, esta interessante instalação.

No interior dos muros de livros, em cima e em baixo, estavam colocados espelhos que criavam, em quem entrava, a ilusão de um poço (ou túnel) «infinito» com paredes de livros. A ilusão criada era tão perfeita que vi gente recuar com vertigens. O número de livros usado em tal construção constituía, só por si, uma imagem suficientemente clara (mesmo sem a tal ilusão) para nos consciencializar que a quantidade de livros que nunca teremos tempo de ler é esmagadora.

Para quem gosta de ler a única ideia consoladora é que uma grande parte dos livros constitui «cópias» (quase sempre maçadoras) de coisas que já estavam escritas e são, por isso, dispensáveis. Apesar disso todos sabemos que, para cada um de nós, a quantidade de livros interessantes que existem exigiria um tempo muito superior àquele de que disporíamos, mesmo numa vida muito longa. E a vida é, antes de mais, para ser vivida. Contudo são os livros, os bons livros, que nos lembram constantemente que a verdadeira emoção é a própria vida. E são eles que nos ajudam a criar uma ideia da «medida» com que vivemos essa emoção.

Aqui deixo (sem outros comentários) uma passagem de Joyce sobre a descoberta do amor e da paixão, por parte de um adolescente:

… Em poucos momentos, estava descalço, com as meias dobradas dentro dos bolsos e os sapatos de lona pendurados aos ombros pelos atacadores atados e, arrancando dos detritos em volta dos rochedos um pau aguçado, roído pelo sal, desceu a rampa do molhe.

Havia um longo riacho na praia e, enquanto patinhava, seguindo o seu curso, reparava no número infindável de algas à deriva. Cor de esmeralda, pretas, avermelhadas e cor de azeitona, deslocavam-se por baixo da corrente, ondulando e girando. A água do riacho era escura e interminável e reflectia as nuvens que adejavam no alto. As nuvens pairavam silenciosamente por cima dele e o ar quente e cinzento estava parado e uma nova vida rebelde castava nas suas veias…

… Estava sozinho. Estava livre, feliz e próximo do cerne selvagem da vida. Estava sozinho e jovem e predisposto e rebelde de coração, só, no meio do ar selvagem e das águas salobras, da colheita marinha de conchas e algas e da velada luz cinzenta e de figuras de crianças e raparigas envergando trajos alegres e de cores claras, e de vozes infantis e juvenis que se erguiam no ar.

Viu uma rapariga diante dele, a meio da corrente, só e parada, a olhar para o mar. Parecia ter adquirido, por artes mágicas, semelhanças com uma estranha e bela ave marinha. As suas pernas nuas, longas e esbeltas, eram tão delicadas como as de uma garça, e eram puras, excepto no local onde uma alga cor de esmeralda tinha aderido à sua carne como um sinal. As suas coxas, mais cheias e um tom suave como o do marfim, estavam nuas quase até às ancas, onde as franjas brancas dos calções lembravam uma penugem branca e macia. As saias de um azul de ardósia estavam ousadamente enroladas em volta da cintura, descaindo atrás como a cauda de uma pomba. O seu peito fazia lembrar o de uma ave, macio e leve, leve e macio como o peito de uma rola de plumagem escura. Mas os seus longos cabelos louros eram juvenis, como juvenil era o seu rosto, tocado pela maravilha da beleza mortal.

Estava só e quieta, olhando para o mar; e, quando sentiu a presença dele e a adoração nos seus olhos, voltou os seus para ele, sustentando tranquilamente o seu olhar, sem vergonha e sem malícia. Sustentou o olhar dele durante longo, longo tempo e depois, calmamente, baixou os olhos e fitou a corrente, agitando levemente a água com os pés, para um lado e para o outro. O primeiro ruído suave da água que se agitava quebrou o silêncio, baixo e leve e sussurrante, débil como os chocalhos das ovelhas; para cá e para lá, para cá e para lá; e um leve rubor tremulou no rosto dela.
- Deus do Céu! bradou a alma de Stephen, numa explosão de alegria profana.

Afastou-se subitamente dela e começou a atravessar a praia. Tinha o rosto a arder; todo o seu corpo estava em chamas; os seus membros tremiam. Continuou a caminhar, sempre em frente, pela areia, até muito longe, acompanhando o cântico selvagem do mar, gritando saudações ao advento da vida que chamara por ele.

A imagem dela ficara gravada na sua alma para sempre e palavra alguma quebrara o silêncio sagrado do seu êxtase. Os olhos dela tinham-no chamado e a alma dele repondera ao apelo. Viver, errar, cair, triunfar, recriar a vida a partir da vida! Tinha-lhe aparecido um anjo rebelde, o anjo da juventude e da beleza mortais, um enviado das belas cortes da vida, para lhe abrir, num instante de êxtase, as portas de todos os caminhos do erro e da glória. Sempre em frente, em frente, em frente!

Deteve-se subitamente e escutou o seu coração, no meio do silêncio. Quanto tempo teria caminhado? Que horas seriam?

Não havia pessoa alguma perto dele e o dia parecia desvanecer-se. Voltou para o lado da terra e correu para a margem e, subindo a encosta de areia, sem se preocupar com os seixos cortantes, descobriu um círculo de areia no meio de dunas cobertas de tufos de ervas e aí se estendeu, para que a paz e o silêncio da noite pudessem acalmar a agitação do seu sangue.

Sentia por cima de si a cúpula ampla e indiferente e os calmos movimentos dos corpos celestes; e a terra por baixo dele, a terra de que tinha nascido, acolhera-o no seu seio.

Fechou os olhos no langor do sono. As suas pálpebras estremeceram, como se sentissem o vasto movimento cíclico da terra e dos seus guardiões, estremeceram como se sentissem a luz estranha de um mundo novo.

A sua alma penetrava num mundo novo, fantástico, confuso, indistinto como um mundo submarino, atravessado por formas e seres nebulosos. Um mundo, um clarão ou uma flor? Bruxuleando e tremulando, tremulando e desdobrando-se, uma luz que irrompia, uma flor que nascia, estendia-se numa infindável sucessão si própria, irrompendo, totalmente rubra, e desdobrando-se e desmaiando até ao mais pálido tom rosado, pétala a pétala, onda de luz a onda de luz, inundando os céus com os seus clarões suaves, cada um mais profundo que o anterior.

A noite caíra quando acordou e a areia e as ervas áridas do seu leito já não brilhavam.

Ergueu-se lentamente e, recordando o êxtase do seu sonho, suspirou de alegria.

Subiu à crista da duna e olhou em volta. A noite descera. A orla da lua nova fendia a vastidão pálida do céu, o rebordo de um arco de prata incrustado em areia cinzenta; e a maré avançava rapidamente sobre a terra, com um sussurro baixo das suas ondas, isolando algumas silhuetas atrasadas em poças de água distantes…

Extracto do livro «Retrato do Artista Quando Jovem» (1916), de James Joyce.
(Colecção Mil Folhas, n.º 40, Edição de «O Público», 2003, pp 170, 172)

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quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Alimentação saudável !

Estou a chegar àquela idade em que ouvimos falar constantemente dos benefícios de uma alimentação saudável, da necessidade de uma dieta alimentar correcta, do controlo do colesterol etc. A coisa assume contornos de tal maneira acentuados que chegamos ao ponto de ver o meu amigo «Rei dos Leittões» (escreve-se mesmo com dois tês, ver ligação de estimação aqui ao lado), imagine-se, a fazer dietas.

Contudo, deve reconhecer-se que os benefícios de tais dietas são inegáveis. Fiz esta foto no zoo de Lisboa já em 2003. Consta que o gorila, já bastante idoso, é saudável. Reparem no tipo de alimentação (só vegetais) e no cuidado com a disposição e manipulação dos alimentos! Exemplar meus senhores, exemplar!

Por outro lado (e para quem conhecer) basta olhar para o «Rei dos Leittões» para ver que já está muito mais magro e elegante.Posted by Picasa

A PASSO DE CARACOL !


Esta é uma pequena escultura que fiz há uns tempos e a colocação da foto pretende significar a lentidão com que me estou a ambientar a estas coisas dos blogs. A verdade é que isto exige tempo e eu ainda não domino bem os processos. Para já vou devagarinho, mas não desisto.Posted by Picasa

sábado, 24 de fevereiro de 2007

Telhado A R

É um telhado de vidro e é na A R.Posted by Picasa