
Vem isto a propósito do resultado do concurso da RTP sobre os grandes portugueses. Antes de mais, diga-se que fosse qual fosse o desfecho, o resultado teria sido sempre controverso. É óbvio que não há apenas um grande português e a haver (goste-se ou não) esse nunca poderia ser Salazar. A escolha de um nome faz-se pela exclusão de outros e um país (uma nação) é o somatório de muitos contributos nos mais diversos domínios (acção governativa, cultura, ciência, economia, política, religião etc.). Por outro lado, o facto da escolha ter sido Salazar (ou terá sido só Sal+Azar?) teve também um efeito perverso. Bastaram uns míseros 65 000 telefonemas (militantes) para se chegar a um resultado que tem tido impactos (divulgação e exposição nacional) completamente desproporcionados. Postas assim as coisas, facilmente se chega à conclusão de que, logo à partida, o facto de não ser possível escolher um nome deveria ter sido suficiente para que gente com responsabilidade (nas mais diversas áreas) recusasse patrocinar o formato do programa. O argumento de que se tratava de um programa (apenas) de entretenimento com uma dimensão pedagógica é muito discutível.
Uma das principais características da humanidade, sem a qual não teriam sido possíveis os avanços civilizacionais, é o reconhecimento do valor essencial do colectivo. Mesmo quando se pretende distinguir cidadãos por contributos sectoriais a tarefa é difícil. Um bom exemplo, dessa dificuldade, ocorre anualmente com a atribuição dos Prémio Nobel. Raramente os resultados são consensuais.
Quando penso em portugueses que foram grandes ocorrem-me nomes como Fernando Pessoa, Pedro Nunes, Orlando Ribeiro ou Amadeo, mas não consigo escolher um. Não sendo praticável escolher o (entre todos) grande português, já me parece possível chegar ao nome do português que melhor simboliza a ideia de Portugal. Um programa formatado na base desta ideia talvez já fosse aceitável mas também pouco provável porque, nesse caso, a resposta (por muitas razões) seria óbvia:
- Camões
Um comentário:
Na minha humilde condição de português anónimo, o túmulo que mais me agita o respeito por quem lá está e mais me espicaça a verbalização de circunstância - por que sei que me ouve o soldado estatuado que ali combate em guarda, o que acaba sempre por me ricochetear,em contido riso, o meu cobarde comentário - é o do soldado desconhecido do mosteiro da Batalha!
E como desconhecido também sou, desconheço porque entre nomes, poetas e Camões, não me incluíste a mim tanbém.
O maior português só pode ser um desconhecido, todos os outros, são apenas barro de moldar para intelectos ou objectos eróticos de televisão!
O Maior Português Sou Eu!
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